quarta-feira, 27 de maio de 2009

Vida dura!

Vamos lá com o apanhado dos últimos acontecimentos em praias tailandesas.

Os últimos dias em Koh Tao para mim foram sossegados, acabei ficando sozinha enquanto esperava o término do curso de mergulho da Sílvia. Em um destes dias de solidão, caminhando pela praia, conheci dois gringos, o Tony (americano) e o Stephan (austríaco), que estavam procurando um lugar mais adequado do que as águas rasas de Hat Sai Ri para a prática de snorkeling.

Eu disse que eles tinham que ir mais para o fundo do mar ou então para a ilhazinha que ficava ali pertinho, para a qual eu também queria ir. Mas óbvio, como todo mochileiro, achamos que pagar USD 3,00 para um barco nos levar até lá era muito caro quando a ilha parecia tão perto.

Então decidimos ir nadando. Quanta esperteza!

Depois do que pareceu uma infinidade nadando em alto mar (02h00 ou 2,5km) finalmente chegamos à ilha...cansados e com os olhos ardendo pra caramba. Pelo menos os meus estavam...eu não tinha uma máscara e tive que nadar com os olhos abertos durante todo o percurso.

Bom, a experiência foi interessante e me deu alguns novos pequenos cortes pra variar.

De Koh Tao seguimos para Phuket, do outro lado da península tailandesa. Fomos em um barco noturno que pelo amor de Deus! Mais desconforto impossível com tamanho aperto, e ainda por cima choveu durante a noite e bem a janela em cima das nossas cabeças não fechava!

Em Phuket a praia mais famosa é Patong, onde rola toda a vida noturna, os shoppings centers, fast-foods, etc...mas desta vez, ao invés de ficarmos no meio da muvuca, resolvemos ficar em uma praia mais calma e fomos para Kata, duas praias abaixo de Patong.

A escolha foi sábia! Kata se mostrou a praia mais bonita que visitamos em Phuket, enquanto Patong tinha uma água suja e marrom, nada muito diferente do litoral sul paulista.

Os dias em Phuket ficaram um pouco fechados e inclusive no dia que fomos passar o dia em Karon (a praia entre Kata e Patong) ficamos em baixo de chuva o tempo inteiro. Mas faroreiro em viagem que se preze vai pra praia até debaixo de temporal. Fizemos até castelinho de areia, com bandeirinha e tudo!

Fizemos também um passeio até a James Bond Island, uma ilha em Phang-Nga (norte de Phuket) onde foram filmadas algumas cenas do filme “ 007 – The man with the golden gun”. Visitamos não só a ilha, mas também fizemos caiaque pelas redondezas e andamos de elefante. Eu até recebi uma massagem de um deles em um show de talentos elefantíacos!

Em Phuket foi praticamente isso, depois nos mandamos para a famosa e paradisíaca Koh Phi Phi, a ilha mais visitada do sul do país e onde foram filmadas as cenas do filme “A Praia”, com o Leonardo DiCaprio.

Koh Phi Phi realmente é tão bonita como a Internet, as revistas e a televisão mostram. Areias brancas e água azul-transparente, um lugar para se admirar!

Em Phi Phi fomos até uma praia (Long Beach) através de uma trilha no meio do mato que ia beirando a costa marítima. Só o visual já valeu a pena, mas a praia em si também era linda! Sem contar umas rochas com um pequeno pedaço de areia no caminho que paramos para dar uma nadada. Era como se fosse uma pequena praia deserta, entre as águas de um mar verde esmeralda e a mata. Perfeita. E a água ainda por cima tinha “fundura”, dava pra nadar e tudo!

O interessante foi que, na volta da trilha, esta mesma água com “fundura” não estava mais lá....no lugar dela estava um monte de areia que se estendia lá pra dentro pra finalmente encontrar um mar raso e sem graça.

Um intervalo de apenas 03h00 entre a nossa ida e nossa volta foi o suficiente para a ação da maré. O mar se recolheu de uma forma incrível, tão rapidamente, deixando tudo o que estava debaixo d’água a olho nu, que até brinquei que devia ser um Tsunami se aproximando. Impressionante a natureza!

Visitamos também o View Point de Phi Phi, lá no topo da montanha, onde se vê Phi Phi lá embaixo, mais pequena do que já é. Um lugar para verdadeiros atletas...o que definitivamente não é o nosso caso. Chegamos lá em cima esbaforidas, pondo as tripas para fora, suadas e cheias de picadas de mosquitos! E eu ainda com um corte no dedo do pé de ter pisado numa rocha dentro do mar (que novidade, eu me machucando outra vez!).

Obviamente não podíamos deixar de ir ao local mais famoso: Maya Bay. Lá mesmo, a famosa praia do filme! Mas devo dizer que foi decepcionante...chegamos lá pelas 16h00, ou seja, bem na maré baixa e a praia estava exatamente como a outra que descrevi há pouco: rasa, quente e sem muita beleza.

E eu achando que ia nadar horrores igual ao Leo no filme. Tsc, tsc, não desta vez!

Mas o passeio em si que fizemos para visitar esta praia foi muito bom! Passamos por outras partes da ilha também, vimos macacos e fizemos snorkeling. Ah, e é claro que machuquei o joelho em um coral, não podia ser diferente!

Foi também neste passeio que fomos até uma ilhinha chamada Bamboo Islands, para mim a praia mais sensacional até agora (depois vejam nas fotos).

Estamos agora em Krabi, nosso último destino na Tailândia antes de seguirmos para a Malásia. Para quem não sabe este país não estava no nosso roteiro inicial, mas mudamos um pouco os planos e agora iremos fazer trekking em uma floresta malaia, seguiremos para Kuala Lumpur e depois vamos para a Meca dos surfistas: Bali, lá na Indonésia.

E é por isso que eu sempre digo pra Silvão: que vida difícil essa nossa. É dura demais!

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Sonífera(s) Ilha(s)!

Estamos nas ilhas tailandesas...e a Internet aqui é MUITO mais cara que nos outros lugares!!!! Sendo assim fiquei um tempão sem escrever e agora várias coisas acumularam. Vou fazer um bem bolado.

Saímos do Camboja com intenção de já irmos para o sul, mas Bangkok era parada obrigatória entre os destinos, então acabamos decidindo que íamos passar uma noite na capital tailandesa. Acontece que conhecemos um brasileiro!!! E aí tivemos que ficar uma noite extra, rsrs.

Nossa última parada na Ásia será em Bangkok e teremos alguns dias por lá, então não tínhamos intenção nenhuma de ir pros lugares turísticos ainda. Nos hospedamos na Khao San Road, uma rua só pra mochileiro. O lugar ferve! É bar, restaurante, lojinha, fast food, joalheria, estúdio de tatuagem, loja de conveniência, tudo 24h!!! E por todos os lados! Parece uma 25 de março com relação ao visual de tanta coisa que tem, mas é muito melhor! Perde-se um dia ali sossegadamente, ainda mais quando a comida das barraquinhas de rua são boas e baratas! É muito Pad Thai (prato típico), Kebab e Banana Pancake!

Passamos as noites com nossos novos amigos que fizemos no ônibus: Konstantin (Alemenha), Mauricio (Itália) e Marcelo (Brasil). Todos muito gente fina. E o italiano era a cara do Lenine...feio igual!!!

Os meninos já tinham ido embora e nosso ônibus para as praias só saia a noite, então aproveitamos que sobrou um tempinho e fomos fazer o Grand Palace, que acredito ser a atração principal de Bangkok. É um conjunto de templos budistas e também o Palácio Real, apesar de o Rei não morar mais lá.

Não mudou nada desde a última vez que estive lá no ano passado, mas desta vez vesti um modelito muito mais interessante!!! Aparentemente minha bermuda que cobria o joelho não era longa o suficiente para entrar no Palácio, então tive que alugar uma saia tailandesa!!! Não vou nem mencionar que ficou ridícula, mas vocês verão nas fotos que mandarei logo mais.

Nossa rota pelo sul começou pelas 3 principais ilhas do golfo da Tailândia: Koh Samui, Koh Phangan e Koh Tao, respectivamente a maior ilha, a ilha da Full Moon Party e a ilha com o curso de mergulho mais barato do mundo. São conhecidas como as ilhas do paraíso, mas a música dos Titãs grudou na minha cabeça durante a estadia nelas que preferi chamá-las de soníferas mesmo.

Koh Samui foi nossa primeira parada. Assim como as duas outras, a água é limpinha, transparente mesmo! Mas não tem nenhuma onda e o mar parece um lagão. Visitamos duas praias: Chaweng e Lamai. A primeira era meio zuada. Os corais eram muito próximos então não dava pra avançar muito no mar e muito menos nadar. E ainda por cima, tentando nadar por cima dos corais, encostei sem querer bem de leve a batata da perna em um deles e isso me gerou uma bela de uma queimadura na perna...acho que o desgraçado era venenoso! Ah, e também pisei em um pepino do mar que me cortou! Parece que minha má sorte ainda não foi embora!!! (Sem contar os outros novos desastres: um arranhão no braço, um roxo no quadril, uma batida no joelho e um roxo na sola do pé).

A segunda praia (Lamai) eram bem melhor, apesar de não ter ondas (e acho que nenhuma por aqui tem) tinha “fundura” suficiente pra nadar um pouquinho e não ficar só no sol cozinhando feito um lagarto. A única parte ruim é que nosso quarto de hotel teve um pequeno contratempo com umas baratinhas, mas nada que alguns gritos, pulos, chinelos e inseticida não resolvesse!

Foi em Samui que começamos a ver de fato aquilo que a Tailândia é tão famosa por: prostituição!

Tem uma parte na cidade que é cheia de bares, parecidos com quiosques de praia, e em cada um dele tem uma barra de ferro que as tailandesas ficam dançando provocativamente, praticamente esfregando a bunda nas caras dos gringos, geralmente os velhos! Fora os inúmeros “casais” que andam de mãos dadas durante o dia: meninas locais com seus 20 e poucos anos, com shortinho de Carla Perez e um tiozão gringo que tem idade pra ser pai, às vezes até avô, delas.

Nossa segunda parada: Koh Phangan!

Desde o fim do ano sabíamos que essa seria uma parada obrigatória!!!! É que é nessa ilha que acontece uma das festas mais famosas do sudeste asiático, a Full Moon Party! É uma festa na praia que acontece todo mês, no final de semana de lua cheia. Estávamos super animadas, mas....foi muito chata!

Tenho que tirar o chapéu e reconhecer que é uma festa bem animada, cheia de gente e por ser na praia a torna ainda mais especial, mas para mim foi praticamente uma balada da Vila UÓlimpia, ou seja, insuportável!

A começar pela música que só oferecia 3 opções: aquele black que é tudo igual, techno de rádio ou aquele eletrônico chato sempre com a mesma batida.

E depois as pessoas, aqueles europeus que parecem que saíram de uma vitrine de loja de roupa. Todos iguaizinhos, parecem terem sido fabricados em massa. Sim, os europeus são bonitos, mas depois de muito tempo vendo só eles na frente eles começam a perder a graça! As meninas se tornam simples loiras azedas e os meninos idem, só que eles andam sem camisa pra ver quem tem o corpo mais sarado.

Os bonitos fabricados de vitrine que me perdoem, mas um pouquinho de miscigenação e diferenciação é fundamental!

Meu padrões de beleza caíram por terra...trocaria fácil um corpinho sarado por uma barriguinha pensante!

Mas claro, isso tudo é só a parte estética...obviamente não foi isso que tornou a festa chata, mas é que além de serem todos iguais ainda tinha um plus negativo: todos na festa tinham por volta de seus 20, 25 anos...mas se portavam igual adolescentes de 17 anos. Frustante.

Acho que eu é que estou ficando velha e chata demais antes do tempo...

Bom, festa à parte....fizemos um passeio que deu a volta na ilha, visitamos uma cachoeira e fizemos um pouquinho de snorkeling também. Depois zarpamos pra última ilha do golfo: Koh Tao.

Koh Tao é famosa por ter os cursos de mergulho mais em conta do mundo, além de ter boa visibilidade e uma grande barreira de corais.

Os dois primeiros dias passamos só curtindo a praia (novamente não dava pra nadar e a água é MUITO quente, quase uma sauna) com 3 brasileiros que conhecemos na balsa: o Marcelo, o Leandro e a Mariana, todos de São Paulo, estavam morando na Austrália e agora estão de malas prontas pra voltar à terrinha.

Ontem fizemos, ao invés do curso, uma pré-curso. Meio dia com teoria e um mergulho de até 7m de profundidade. Nosso instrutor foi o Alberto, um espanhol muito doidão, mas que ensinou o básico pra gente se virar na água!

No começo da descida meu ouvido sentiu bastante a força da pressão, mas depois consegui acostumar e curti demais o mergulho! Nossa, o mar daqui é de um azul fenomenal, e os peixes e corais são lindos, todos coloridos!!! Muito diferente de fazer snorkeling, quando é mergulho o legal é chegar bem pertinho, ir lá no fundão, nadar junto com os peixes e só curtir a beleza!

Depois de ter morado 4 meses em um navio ao redor do mundo essas balsas que eu ando pegando por aqui nem coçam o meu estômago. Oficialmente eu, que passava mal só de ficar em cima de uma bóia, não passo mais mal em alto mar.

Mas, infelizmente, em baixo do mar eu ainda me mantenho com a mesma sensibilidade de antes! Apesar do mergulho ter sido as mil maravilhas, quando eu subi de novo pra superfície já senti direto uma dor de cabeça e enjôo. Resultado: a Silvão decidiu fazer o curso inteiro e tirar o certificado e eu, pelos próximos 3 dias, vou ficar só aqui curtindo o mar à distância.

Enquanto a galera fazia o segundo mergulho eu voltei pro esporte mais calmo: o snorkeling mesmo! Onde eu fico ali, só na superfície, sem enjôos! E este foi muito bom mesmo, a visibilidade estava ótima e apesar de eu estar só em cima conseguia ver tudo lá no fundo...até uma raia!!! E um tipo de barracuda que tinha um dentes enormes que me fizeram sair dali rapidinho.

Mas o saldo foi super positivo: o mergulho e o snorkeling foram ótimos. E eu, que nesta viagem ainda não consegui ver um céu estrelado de deixar de boca aberta, matei a vontade em baixo do mar.

A comparação é inevitável. No meio da imensidãode de um mar azul celeste (o “céu”) cheio de pequenos peixes brilhantes nadando em bandos (as “estrelas”) nunca imaginei que um dos céus mais bonitos que veria seria embaixo da água.

sábado, 2 de maio de 2009

Angkor!

Mas turismo num lugar de guerra não é sinônimo de tristeza 100% do tempo. Claro que também nos divertimos bastante!

Ho Chi Minh é uma cidade grande, novamente com um trânsito caótico e muito parecida com Hanói, mas com um aspecto mais limpo. Além das visitas aos lugares relacionados à guerra, batemos muita perna pelas ruas, aproveitamos os últimos dias da culinária vietnamita e nossos últimos dias com a Emília e a Sara, nossas amigas suecas. E ainda pude dar tchau para o Paras, o inglês que mora no Vietnam e que conhecemos lá em Hanói. Ele voltará para a Inglaterra em breve e na nossa última noite na cidade foi a sua festa de despedida, com direito a música ao vivo e tudo. Com banda Filipina!

Seguimos para o Camboja, direto para a capital, Phnon Penh. Fora o Tuol Sleng e o Killing Fields visitamos também o Museu Nacional e o Palácio Real.

O museu foi um dinheiro perdido. Sinceramente não sei porque continuo entrando nestes museus que só têm cerâmica e pedras, não faz nada meu estilo, mas enfim... O Palácio sim valeu a pena, pois é muito bonito com uma arquitetura que só se encontra aqui na Ásia.

Fora isso Phnon Penh se revelou uma cidade pobre e cheia de pedintes. Ao contrário das grandes cidades do Vietnam o trânsito não era tão caótico e era mais fácil atravessar a rua. Os restaurantes estavam sempre super lotados. O calor continuava insuportável. Os monges voltaram a aparecer em seus robes laranjas fluorescentes. E o mais engraçado foi, no final da tarde, um monte de gente fazendo aula de ginástica ao ar livre na praça central!

Da capital subimos até Siem Reap, onde ficam os templos de Angkor.

Construídos durante o Império Khmer (o antigo, não o ditatorial), os templos têm quase 1000 anos e são majestosos! Mesmo os que estão em ruínas são impressionantes.

Em dois dias fomos aos principais templos: Angkor Wat (a maior construção religiosa do mundo), Ta Prohm (já tomado pelas árvores ao redor e onde foram filmadas cenas de Indiana Jones e Tomb Raider), Pre Rup, Phnom Bakheng, Baphuon e Bayon (este cheio de caras nas pedras, um dos mais legais).

Mas o melhor foi: encontramos os primeiros brasileiros depois de 2 meses!!!

Estávamos nós lá em um dos templos quando passa uma menina com uma canga com a bandeira do Brasil pendurada na mochila. Tive que perguntar se era. Batata! Era um casal em viagem, o Cássio e a Karine, de Porto Alegre, mas que tinham morado na Austrália por 2 anos e meio e agora estavam voltando ao Brasil, mas não sem antes fazer um mochilão pela Ásia.

Como bons brasileiros saímos para tomar uma cerveja à noite em um dos principais bares da cidade, o Angkor What? (rsrsrs)

Antes de nos despedirmos do Camboja, na nossa última noite fomos a um restaurante dar adeus ao Amok Fish, o prato nacional cambojano. É tipo um curry com leite de coco (e olha que eu nem gosto disso), peixe, batatas e temperos. É MUITO bom!!!

De Siem Reap viemos para Bangkok, para enfim seguir viagem para as praias tailandesas do sul!!! Paraíso, aí vamos nós!

Da matança à esperança!

“When I was a child
I spoke as a child
I understood as a child
I thought as a child
But when I became a man
I put away childish thing.”

(Quando eu era uma criança
Eu falava como uma criança
Eu entendia como uma criança
Eu pensava como uma criança
Mas quando eu me tornei um homem
Eu deixei de lado as coisas de criança)

Este texto estava junto com uma foto de uma criança com farda de soldado e segurando um rifle no Museu das Reminiscências da Guerra (do Vietnã, ou Americana, como chamam os próprios vietnamitas) e ele é perfeito para começar o post sobre os últimos lugares que visitamos.

As duas últimas cidades visitadas nos trouxeram sentimentos de dúvidas a respeito da raça humana. Como pode um ser humano matar outro ser humano com tamanha crueldade, através de uma guerra infundada ou de um regime ditatorial cruel e extremista?

Em Ho Chi Minh City (ex-Saigon, capital do extinto Vietnã do Sul) os atrativos turísticos respiram a guerra. Começamos pelo Palácio da Independência, que recebeu este nome para celebrar a Independência (até então eram colônia da França), no início da década de 50. Mas, mais importante ainda, foi aqui que, em 30 de abril de 1975, Saigon foi tomada pelas tropas do norte, pondo assim um ponto final em uma guerra que durou quase duas décadas e que matou milhões de pessoas, incluindo idosos, mulheres e crianças.

O Palácio nos deu um informativo geral de como foi a guerra, quem apoiou quem e quais foram os principais acontecimentos, mas foi no Museu das Reminiscências da Guerra que fomos realmente tocadas e colocadas ao extremo dos nossos sentimentos. O Palácio nos deu a história, o museu a realidade.

Através das fotos, fatos e depoimentos expostos ali é inacreditável pensar que tal guerra se deu em plena segunda metade do século XX. É ainda mais inacreditável pensar que, já no século XXI, estes tipos de combates ainda acontecem mundo a fora. E é impressionante como os EUA estão sempre envolvidos em um, se não em mais, deles.

Famílias inteiras destruídas por causa de uma briga de interesses mesquinha e sem respeito à vida. Pessoas que tiveram pernas e braços amputados, sequelas para o resto da vida. Bombas que até hoje continuam sob o solo, que podem explodir a qualquer momento e que representam uma eterna ameaça à sobrevivência daqueles que só querem sobreviver. Bebês que nascem, até hoje, com deformações por causa dos químicos (cientistas dizem que nesta guerra foram utilizados os mais fortes e letais existentes na época) que os EUA usaram na guerra e que continuam afetando as gerações atuais, mesmo depois de mais de 30 anos do fim do combate.

Não queiram ver as fotos destas deformações. São cruéis, extremas e indignas. Não tenho nem como descrever o que vi ali.

Saigon foi nossa última cidade no Vietnã, de onde partimos para o Camboja. Nossa primeira parada no país vizinho foi a capital, Phnom Penh.

Phnom Penh, infelizmente, também respira tragédia. Uma tragédia ainda pior do que a guerra, uma tragédia traduzida em genocídio. Milhares de vidas tiradas sem nenhum motivo aparente, apenas porque uma pessoa decidiu que tinha que ser assim: um ditador.

O Camboja teve uma das ditaduras mais ferrenhas de todo o mundo. Para abreviar a história em si, antigamente, bem antigamente, não existia o Camboja e sim o Império Khmer, que ocupava grande parte do Sudeste Asiático e que foi motivo de muito orgulho para o país, afinal foi nessa época que o Camboja estava no auge. Mas aí veio a invasão francesa e o país se tornou uma colônia, veio a independência e, claro, uma briga para ver quem assumiria o poder.

Em 1975 Pol Pot liderava o grupo vencedor, um grupo que dizia ser a continuação do Império Khmer e de toda a sua glória, um grupo que pregava o comunismo, mas que acabou introduzindo os anos mais sangrentos da história do país. Do Império Khmer eles não tinham nada, ficaram apenas com o nome, ao qual foi acrescida mais uma palavra, talvez para caracterizar o sangue que em vão eles derramaram por quase 4 anos. Foi a época do Khmer Rouge (em português, Khmer Vermelho).

Pol Pot se assemelha muito com Hitler, e sua política com o nazismo. De alguma maneira ele conseguiu um exército que acreditava nas coisas que ele pregava: acelerar o crescimento do país, acabar com as cidades, pois do campo deveria vir tudo o que é necessário para a prosperidade de um povo, auto-suficiência, o vietnamita como inimigo número um, extermínio de qualquer pessoa que fosse vietnamita, que tivesse ligações com vietnamitas ou familiares vietnamitas, extermínio de intelectuais, médicos, ou qualquer um que tivesse um grau de ensino superior.

Não é difícil fazer a relação: a busca de uma raça pura e obediente, livre de qualquer pessoa que fosse inteligente o suficiente para perceber que aquilo era errado.

Infelizmente este regime que durou 3 anos, 8 meses e 20 dias foi suficiente para dizimar um quarto da população do país. E o que é pior: da forma mais cruel possível, talvez pior do que os extermínios em massa nos campos de concentração nazistas durante a II Guerra Mundial.

Visitamos o Tuol Sleng, uma antiga escola primária que era utilizada pelo Khmer Rouge como prisão. Era parte da política deles evacuar toda a cidade e mandar as pessoas para os campos de trabalho no interior do país. Muitos, antes de seguirem para os campos, eram aprisionados nesta escola porque antes tinham que prestar depoimentos, fazer confissões, ou simplesmente porque tinham que esperar mais um pouco antes de irem. Nesta prisão eles eram torturados, espancados e maltratados. Alguns morriam ali mesmo e os que não iam para os campos de trabalho iam direto para Choeung Ek, uma região próxima aonde eram exterminados.

Visitamos também este local que é conhecido como Killing Fields. Não há muito que dizer. As pessoas eram mortas de todos os jeitos imagináveis, mas quase nunca por armas de fogo, pois uma bala era muito cara para ser desperdiçada assim. A pior forma era aplicada aos bebês: os soldados os agarravam de cabeça para baixo pelos pés e os balançavam contra um tronco de uma árvore, mirando especialmente a cabeça, até que morressem.

O sentimento que tive ao estar ali durante 4 horas foi o mesmo que tive quando visitei Auschwitz, o principal campo de extermínio nazista. Um nó na garganta e uma pergunta que não me saía da cabeça: Por quê? Por quê? Por que ainda somos assim?

Houve uma equipe sueca que visitou o Camboja na época a convite do próprio Pol Pot. Nos anos 70 os integrantes desta equipe eram manifestantes ativos contra a guerra do Vietnam, apoiaram o movimento de 68 em Paris e viam na Revolução Chinesa de Mao Tse Tung a resposta para todos os problemas da humanidade. Quando a “revolução” cambojana surgiu pregando um comunismo aparentemente mais justo que o de Mao eles acharam que ali estava a perfeição de concepção humana e resolveram aceitar o convite de visitar o país.

Obviamente durante sua estadia eles foram conduzidos por oficiais do Khmer Rouge, ou seja, foram levados a lugares e introduzidos a pessoas que não fossem mudar o seu jeito de pensar sobre o regime. Acabaram, sem querer, fazendo parte da propaganda que Pol Pot pregava.

Depois de 30 anos um dos suecos que estava nesta equipe mandou todas as fotos da viagem para o Tuol Sleng, com elas foi montada uma exposição do que eles pensavam na época e do que, depois de terem confirmado que aquilo tudo era errado, eles pensavam hoje.

Fazendo um balanço da sua visita na época ele diz:

“...minha experiência me ensinou que existem direitos humanos fundamentais que não são negociáveis:

- Liberdade de expressão e pensamento.
- Liberdade de expressar e praticar qualquer crença religiosa.
- Liberdade de ir e vir.

Eu também espero ter aprendido a ser cético em relação a qualquer tipo de líder que prega ter a “solução final” para a sociedade e a qualquer tipo de solução que diz resolver todos os problemas rapidamente.

Eu não perdi a esperança na possibilidade de um mundo melhor para todos e em uma ordem mundial mais justa do que a que estamos vivenciando hoje.”

Felizmente nem todos são adeptos da guerra, das atrocidades, das injustiças e do desrespeito. Então ainda há esperança, certo?

“Quando o poder do amor superar o amor pelo poder, então haverá paz na Terra.”
- frase de Jimi Hendrix, escrita na porta de um banheiro em Siem Reap, Camboja -

“Imagine all the people living life in peace
You can say I’m a dreamer but Im not the only one”
- John Lennon -