sexta-feira, 31 de julho de 2009

TANZÂNIA, MALÁUI E UM POUQUINHO DE PORTUGUÊS

Antes de embarcar para Zanzibar paramos em Dar Es Salaam, capital da Tanzânia, para uma noite à beira-mar em Makadi Beach.

No dia seguinte saímos cedo para Zanzibar e para chegar lá tivemos que pegar uma balsa de 3 horas. Que martírio!!!! A balsa balançava para todos os lados, para cima e para baixo e meu estômago não estava gostando muito disso...felizmente consegui pegar no sono e enganar o enjôo.

O lugar onde ficamos hospedados era enorme! Estrutura toda de madeira na beira da praia. Lindo! O serviço no restaurante por sua vez era péssimo, mais lerdo impossível...mas depois pude perceber que isso é comum na África como um todo.

E pela primeira vez cama! Quanta mordomia!

Nos 3 dias que passamos por lá nada muito extraordinário para se fazer. Alguns fizeram mergulho ou snorkeling, eu, vindo direto de uma maratona destes esportes na Ásia só quis saber de ficar esticada na praia!

Ah, e ainda tivemos uma Full Moon Party. Mas esta bem diferente da versão tailandesa. Melhor!

Uma mistura de locais e gringos (não tão bobos como os da festa original), um show de acrobacia e música e bebida boa, com direito até à brasileiríssima caipirinha, feita com 51 de verdade!

Mas tudo que é bom dura pouco. Tivemos que dar tchau à praia e às camas e voltar numa balsa muito mais agitada do que a ida que desta vez me derrubou, literalmente, fazendo com que eu deitasse no chão para que não vomitasse.

Antes de entramos no Maláui tivemos ainda nossa primeira noite de bush camp, ou seja, de acampamento no meio do nada mesmo, literalmente nos arbustos ao lado da estrada.

Basicamente um bush camp funciona assim: chegamos um pouco antes do anoitecer, montamos as barracas, quem estiver encarregado de cozinhar no dia cozinha, jantamos e vamos para a cama super cedo, afinal não há luz elétrica e não resta muito que fazer na escuridão da noite africana. E pra dar um toque especial a esta noite eu tive febre e fiquei praticamente inválida dentro da barraca.

Obs: repararam que eu não mencionei a palavra banho, né? Bom, não precisa de muita cuca pra perceber que se estamos no meio do nada chuveiro não existe e, portanto, um dia sem banho para todo mundo!

Nossa primeira parada no Maláui foi a vila de Chitimba, à beira do lago Maláui, tão grande que o que se vê é o horizonte e não a outra margem do lago. Parece o mar.

Em Chitimba, além de finalmente fazer algum exercício físico jogando volley (meu time perdeu), eu e mais 4 (Flemming, Cheryl, Ireen e Sharon) fizemos um passeio pela vila local. Visitamos primeiro a escola, muito precária, com salas de aula decadentes e sem energia elétrica. E pra piorar o cenário não há banheiro, apenas buracos no solo cercado de uma “parede” de palha. E é dever dos alunos manter os “banheiros” limpos, então muitos deles estavam lá com pás e enxadas limpando os respectivos.

Depois da escola visitamos o centro médico que, imaginem, sem energia elétrica é no mínimo uma piada. Claro que eles fazem o possível para ajudar as pessoas que necessitam, mas sem nenhuma aparelhagem e dinheiro fica difícil. Grande parte da ajuda monetária recebida vai para a compra de parafina, usada para manter as geladeiras funcionando e deste modo evitar que os medicamentos e vacinas percam a eficácia. Nem sempre conseguem. Triste.

Deixando tristeza de lado, a nossa última visita na vila foi pra lá de engraçada. Nada mais nada menos que um bruxo! Ou witch doctor, ou o que eu acho que no Brasil seria um curandeiro.

Entramos todos na casa dele, um casebre bem simples de barro. Sentamos no chão e aguardamos enquanto outros dois locais tocavam tambor para sua entrada triunfante. De repente ele aparece, um negão com um rosto chupado, um vestido verde feito de trapo, uma cruz vermelha estampada e uns metais enrolados na cintura e nos tornozelos.

E começa a dança, ou que deveria ser uma dança, porque na verdade é um chacoalhado esquisito, cheio de chilique, parece até que o curandeiro está recebendo milhões de espíritos ao mesmo tempo. E ele tem uma mini vassourinha na mão que vai espanando os ombros e ai ele oferece a vassoura pra mim e é pra eu ir dançar com ele! E por que não? Aí vou eu!

Chacoalha de cá, chacoalha dali, remexe e grita! Sim, grita! Porque o bruxo do nada pára, olha fixamente pra você e faz: buuuuu. E você tem que fazer o mesmo...e a dança continua.

E assim foi com os outros 4, até que a dança acabou e aí era a hora das profecias! Pois claro, bruxo que se preze tem que prever futuro.

E claro que era tudo uma baboseira, porque ele disse praticamente as mesmas coisas para todos, mas enfim, a minha foi:

- Eu gosto de conversar e as pessoas de conversar comigo!
- Obterei sucesso profissional.
- Terei dois filhos. Um casal.
- Casarei antes dos 70!!! (que promissor, hein!)

Bom, bruxos a parte o passeio valeu a pena e durante todo o percurso fomos seguidos por crianças locais super fofas, querendo segurar nossas mãos a todo o momento e tirar fotos!

De Chitimba fomos para Kande Beach, outra vila à beira do lago.

Em Kande algo bem chato aconteceu, minha companheira de barraca (Sharon) foi ao banheiro no meio da noite e eu fiquei dormindo...de repente eu escuto o zíper da barraca abrir e penso ser ela, mas na verdade era um tremendo de um mão leve, que rapidinho puxou as duas mochilas dela e as roubou!

Sim, inacreditável, aconteceu enquanto eu ainda estava ali dentro, dormindo...mas infelizmente esta também é uma das faces da África. Passou passou, não se fala mais nisso.

Ainda em Kande Beach o guia e motorista da nossa viagem cismaram em fazer dois porcos no espeto. Os coitados vieram vivos de manhã e apareceram mortos duas hora depois, prontos para serem colocados sobre brasa! No fim das contas nem saboroso estava!

No dia seguinte cozinhei na areia e nadei no lago. Tinha uma ilha no meio que todo mundo dizia: não nade até lá, a correnteza é muito forte! Pra que dizer isso? Só pra instigar a vontade de ir...consegui um comparsa pra nadar comigo até a ilha, o alemão Ralph. Sim, a correnteza era forte, mas chegamos lá, 1,5km de nado e um sentimento de vitória! Ah, nadar é o único esporte que eu posso dizer que realmente gosto.

Na nossa última noite em Kande Beach fomos até a vila para um jantar local no fundo de uma das casas locais. A maioria da galera achou o jantar regular, mas eu me deliciei. Começamos com uma sopa que estava boa, mas aí sim veio o grande prato. O que foi regular para os outros foi para mim “o” jantar: arroz, feijão e couve! O que mais uma brasileira pode pedir? Comer comida brasileira (ou devo dizer africana?) no solo das nossas origens e sentir o gostinho de casa não tem preço!

O jantar foi seguido por uma apresentação de dança das crianças locais. Olha, se o funk e o axé não vieram daqui eu não sei de onde vieram. Como essas crianças rebolam, meu Deus! E num ritmo pra lá de brasileiro!

Começo a acreditar que os mapas estão errados e que não há um oceano entre a gente. A Pangéia ainda existe e o Brasil continua, definitivamente, grudado na África!

Última parada em Maláui foi a capital Lilongwe.

Cidade bem pobre, com quase nada. Tudo o que fiz: compras no mercado, Internet, correio e troca de dinheiro. Nada mais pra fazer.

Pra ir do Maláui pro Zimbábue tivemos que cruzar Moçambique. Uma pena que nosso único país de idioma português só nos viu por uma única noite.

Pra falar a verdade fiquei feliz que foi só uma noite, pois para cruzar a fronteia eles foram tão burocráticos, se fizeram de difícil, como se tivessem o rei na barriga. E ainda tive que pagar meu visto de novo! Então decidi que era melhor não ficar num país onde as pessoas se portavam deste jeito.

Nossa única noite em Moçambique foi novamente um bush camp. E a saída do país foi igualmente burocrática, cheia de dor de cabeça e espera daqui espera de lá. No final das contas 3 horas para deixarmos o país! Deus dá-me paciência.

A única coisa que valeu a pena em Moçambique: o primeiro céu totalmente estrelado que vimos. Simplesmente lindo!

domingo, 5 de julho de 2009

De um continente ao outro!

Cheguei em Hong Kong tarde da noite pra encontrar um albergue num prédio de natureza meio duvidosa, cheio de indianos tentando vender coisas, com os corredores cheirando a mofo e com uma velha na recepção meio grossa de mais pro meu gosto.

Com esta receptividade toda e com a perda da Silvão como minha companheira de viagem minhas primeiras horas em Hong Kong não foram muito promissoras. Andei pela Nathan Road, uma avenida com lojas, shoppings e parques. Parei no Kowloon Park pra ver os velhos praticando Tai Chi Chuan (?) e a noite fui me encontrar com a Janet, uma amiga do navio que mora em HK.

O encontro foi bem divertido. É bom encontrar alguém que fez parte de algo que ninguém em casa entende. Depois do jantar encontramos a Way Ip, outra amiga que estava de passagem em HK a caminho de Pequim. Fomos a uma casa de chá e pusemos o papo em dia.

No dia seguinte encontrei a Janet pro almoço no SoHo, um bairro estilosinho de HK, com bares descolados, restaurantes chiques, galerias de arte, etc. Óbvio que fomos num restaurante super local, com preços baratos, mas pra compensar a comida era bem desafiadora...não consegui encarar muito não!

Fui ainda até uma outra ilha de HK para visitar a estátua do Buda de bronze, a maior do mundo exposta ao ar livre. Por fim fui até o The Peak, o ponto mais alto da cidade onde se tem vistas da baía toda iluminada lá embaixo. Bem legal.

No meu último dia em HK e também na Ásia encontrei a Janet para um almoço rápido e, antes de ir pro aeroporto, dei um passeio pela região do porto. Fiquei sentada olhando a baía e os navios por uns belos 40-50 minutos.

Há 2 anos atrás eu nem imaginava ir até a Ásia, não imaginava rodar o mundo a bordo de um navio, não imaginava que teria que ir até este exato porto para o qual estava olhando agora pra pegar este navio, não imaginava que iria aprender tanto, conhecer tantas pessoas, ouvir tantas histórias, dar valor à coisas que eu nem sabia que me eram importantes, etc.

Há pouco mais de um ano, quando voltei ao Brasil, eu nunca imaginei que hoje estaria aqui de novo, olhando pro mesmo lugar onde tudo começou. Nunca imaginei que estaria de volta aqui, fazendo outra viagem ao redor do mundo, aprendendo muitas outras coisas novas, conhecendo mais pessoas, vivenciando outras experiências e assim por diante.

E a vida é surpreendente exatamente por isso: não adianta querer planejar muito, ela vai dar um jeito de fazer com que tudo ocorra diferente do esperado...e às vezes este diferente é muito melhor do que o esperado, e aí a gente vê beleza, a gente sente gratidão, realização, felicidade e uma imensa benção por, por algum motivo, você ter a sorte de poder fazer tudo isso.

Obrigada. Obrigada a Deus, aos cosmos, à natureza, ou seja lá o que quer que seja que quis que eu vivenciasse tudo isso agora. Obrigada aos meus pais por me proporcionarem esta experiência, mas especialmente por me incentivarem e não me acharem uma doida varrida.


ÁFRICA


No avião a caminho da África eu já conseguia sentir...sentir aquele cheirinho de Brasil. Da minha terra, meus amigos e minha família cada vez mais pertinho de mim! Mas antes eu tinha que dar uma descida na África pra mais 2 meses de viagem.

Cheguei em Nairóbi, Quênia, já tarde da noite e fui direto pro hotel onde conheci a Sharon, uma professora de 4ª série, americana, 39 anos que acabou se tornando a minha companheira de barraca.

Cedinho no dia seguinte conhecemos os outros integrantes deste grupo de viajantes que no mínimo tem que ter um pino a menos pra sair acampando pelo continente africano! 24 pessoas + o guia + o motorista. O grupo se deu bem logo de cara, o que facilita e ajuda a amenizar a saudades de casa.

Depois de feitas as apresentações caímos na estrada...literalmente! Um dia inteiro dentro do caminhão que nos levou do Quênia até a Tanzânia, mais precisamente até a cidade de Arusha, onde eu acampei pela primeira vez!

Observações: Montar uma barraca é muito mais fácil do que eu imaginava. Ter apenas um saco de dormir e nenhum colchão é muito mais dolorido do que eu imaginava. A sensação de estar acampando no meio da África é inexplicável!

No dia seguinte eu e a Sharon fomos até o centro de Arusha com transporte público, praticamente igual às lotações de São Paulo, mas muito mais apertadas e com muito mais gente (dá pra imaginar!?).

Rodamos um pouco pela cidade, que é bem pobre e voltamos pro acampamento no mesmo tipo de transporte, mas desta vez carregando crianças no colo! É que entrou essa mulher com 3 filhos e já não tinha mais espaço pra sentar, então eles colocam as crianças nos colos dos estranhos pra que elas não viagem em pé...e eu também entrei na dança e acabei por segurar uma delas. Ah, e ainda recebi proposta de casamento do cobrador e tudo, hahaha.

À tarde partimos para fazer safári no Ngorongoro Crater, uma cratera gigantesca de um extinto vulcão que hoje serve de habitat para uma diversidade de animais. Vimos zebras, gazelas, leões, hienas, búfalos e muitos outros, todos bem pertinho. Fomos também até o Serengeti, uma parque nacional famoso aqui na Tanzânia também pela diversidade da sua fauna.

Acampar no Serengeti foi uma experiência à parte, pois o acampamento não é isolado da natureza, ou seja, os animais vagam livremente pelas barracas! E assim mesmo aconteceu: antes de irmos dormir tinha um elefante enorme rondando a gente e ao amanhecer 4 girafas para nos dar bom dia!

Observações: Ir ao banheiro no meio da noite nem pensar, a menos que você queira correr o risco de ser atacado por uma hiena. Comida dentro da barraca também é inviável, a menos que você queira fazer uma super recepção para algum leão que eventualmente vai visitar a sua barraca durante a madrugada em busca dessa comidinha escondida...que faro, hein!

Próxima parada: Zanzibar, uma ilha da Tanzânia com areias brancas e águas azuis.

Pra chegar: Quase dois dias inteiros de estrada. E haja bunda pra aguentar ficar sentada enquanto o caminhão vai passando pelos intermináveis buracos das estradas africanas.

E as necessidades fisiológicas? Bom, essas são feitas agachadinha mesmo, na beira da estrada, basta apertar uma campainha dentro do caminhão pra informar que você está necessitada de uma paradinha básica.

Ah, e finalmente consegui descolar com o guia um colchão inflável meio vagabundo, tão fino que tenho que dobrá-lo na metade pra evitar que meu tronco toque o chão, mas já é um progresso. Melhor isso do que nada.

E vamos que vamos!